Queriamos conhecer melhor a Sophia de Mello Breyner Andersen e para isso nada melhor do que saber o que as outras pessoas pensam e dizem sobre a autora. Depois de uma pesquisa encontramos opiniões de diversa pessoas, desde Manuel Alegre aos próprios filhos da autora.
Da lusitana antiga fidalguia
um dizer claro e justo e franco
uma concreta e certa geometria
uma estética do branco
debruado de azul.
Sua escrita é de nau e singradura
e há nela o mar o mapa a maravilha.
Sophia lê-se como quem procura
a ilha sempre mais ao sul.
Manuel Alegre
Vejo-te sempre vertical num apogeu azul
em que celebras as coisas e pronuncias os nomes
com a claridade das cúpulas e das evidências solares
Em ímpetos claros vais figurando o cristal
que dos actos transferes para as palavras límpidas
(…)
És o dia a claridade do dia dominado
e de cimo em declive és o oriente amanhecendo
Frágil é o teu poder? Frágil e perfeitíssimo
(…)
António Ramos Rosa
Sinónimo absoluto de poesia
Dizemos «Sophia» como se esta palavra fosse sinónimo absoluto de poesia.
Dizemos «Sophia» e a nossa memória enche-se do som que as palavras têm.
Dizemos «Sophia» e de repente o ar é límpido, as águas transparentes, há sempre uma casa na falésia e o sol faz rebentar o calor na cal das paredes.
Dizemos «Sophia» e todas as flores e todos os peixes têm nome, e as crianças tornam-se mais ricas quando os encontram. Dizemos «Sophia» e não precisamos de dizer mais nada.
Alice Vieira
Ao falar de Sophia ocorrem-me duas ordens: a dos deuses e a dos homens. Ela participa de ambas. De onde o «ph» dela que todos aceitamos. Não só a sabedoria, a totalidade do saber, a claridade, aquela leveza e sentido extremo do espírito cívico e da lealdade. Vejo a Sophia dançando num trono invisível, acertando sempre quando é preciso acertar e, brincando, dizendo verdades terríveis, com a pontaria cega das crianças e dos loucos. Além disso, cozinha bem, tem umas pernas muito bonitas, faz-me sempre rir. Imagino que se Camões tivesse uma princesa preferida, ela seria a Sophia.
Margarida Gil
Apego às coisas essenciais
Mais do que o conhecimento, a minha mãe transmitiu-nos, desde a infância, o apego intransigente às coisas essenciais da alegria de viver: o bom pão, o bom vinho, o mar, o Verão, a luz. Essa é uma herança preciosa. Porque essa é, na verdade, a base do conhecimento e da vida.
A minha mãe ainda hoje, com 80 anos, tem uma maior avidez de mar ou de luz do que de mais livros. E vive com a mesma intensidade todas essas coisas essenciais. Sobretudo, vive com a mesma fúria cada instante. Porque ela não é depressiva ou melancólica. Pelo contrário, ela enfrenta com fúria – uma vez mais, é essa a palavra – todas as perdas. Essa forma de viver, de amar cada instante que a vida nos dá, contagiou-nos profundamente.
Maria Sousa Tavares
Sophia Andresen, ao falar de justiça, de liberdade, de plenitude, está simultaneamente a falar de ritmos; está a excluir léxico; está a incluir organizações de tecidos vocabulares por onde o pano do discurso se desfralda em tela de prodígios.
Joaquim Manuel Magalhães
O Independente, 23/2/90
O mundo de Sophia é povoado por deuses e não por homens. Por isso, é mais fácil encontrá-lo nos vestígios e nos lugares da civilização grega do que no mundo em que habitamos. Por vezes, esta poesia chega a ser de uma profunda desumanidade:
sonhando com a perfeição, o equilíbrio e a harmonia (...) ergue-se para além do mal e da imperfeição que nos são consubstanciais e faz reviver um tempo sem mácula. (...) É aí que a poesia se dá como revelação e como relação com o Todo, como uma espécie de linguagem natural que decorre simbolicamente das coisas. (...) Impossível não sermos tocados pela força bem perceptível desta positividade. Sophia faz-nos sentir o júbilo de uma poesia que avança contra ou à margem do sentido negativo da História (...) e atribui ao poeta a sua missão original de celebração.
António Guerreiro
Expresso, 15/7/89
É dessa aliança entre a misteriosa graça das musas e o exigente rigor de uma ética muito antiga que vive a escrita de Sophia, sempre bem ciente da degradação do "tempo dividido" que nos cabe, mas insistindo em celebrar o que resiste
Fernando Pinto do Amaral
Público, 24/12/94
Miguel Sousa Tavares, filho de Sophia lembra-se que quando a casa à noite estava, meia adormecida, a mãe dançava pela sala, tal como escreveu (“bailarina fui mas nunca bailei”). Miguel recorda que às vezes a mãe o acordava para espreitar debaixo da cama para ver se haviam ladrões, por vezes havia, davam-se pelo nome PIDE, mas a sua mãe não tinha medo deles, apenas tinha medo de fantasmas.
Sohia tratou de ensinar as bases sobre poesia aos filhos, ensinou-lhes foi que os poetas eram todos personagens extraordinárias e que a poesia que aprendemos é para ser dita e para ser escutado: é oral, não cabe nos livros.
Miguel recorda ainda que passavam horas e horas a escutar a mãe a ler os poemas mais bonitos.
Miguel Sousa Tavares
Público 10/07/2004
Obrigado pela sua obra
O Prémio Camões é hoje, sem dúvida, o reconhecimento maior e mais nobre que um escritor de língua portuguesa pode receber na sua área linguística. A obra de Sophia, pela sua regularidade, pelo seu equilíbrio, pela sua nobreza, pela sua pureza, justifica inteiramente o prémio.
Os leitores de Sophia, e contam-se por muitos milhares, de todas as idades e de todas as formações, que conhecem a música dos seus poemas e, frequentemente, os sabem de cor, não deixarão de regozijar-se por esta decisão, que os identifica com um prémio que é de todos nós que falamos português. A Editorial Caminho, que publica a obra poética de Sophia, associa-se naturalmente a este coro de aprovações. Parabéns, Sophia, pelo prémio. E obrigado. Obrigado pela sua confiança em nós, obrigado pela sua obra.
Zeferino Coelho
Jornal de Letras, Artes e IdeiasL, 16 de Junho de 1999
Fonte:
-http://www.mulheres-ps20.ipp.pt/SophiaMBreyner.htm
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